domingo, 6 de setembro de 2020

A RODA

 

A RODA


Quem se lembra deste sistema de rega?
Existiu uma época onde todo aparelho mecânico era accionado por tracção animal ou aproveitando as forças humanas, ou inventos que hoje nos parecem um tanto rudimentares, mas que cobriam perfeitamente as necessidades dos nossos antepassados.
Um dos mais famosos era a roda de água. Aproveitando a força humana, os nossos tetravós eram capaz de regar grandes extensões de terra com este sistema que, de outro modo, custaria muito esforço para accionar.
Quando não havia burro ou cavalo, era o esforço humano que fazia esse trabalho.
Era um tempo de muito trabalho mas também muito alegre.
Enquanto se caminhava até ao sol pôr em cima da roda, cantava-se enquanto os cântaros de lata ou barro, tiravam a água. entoavam canções populares que se ouvia a grandes distâncias. Apesar de cansativo não se sentia tristeza, enquanto se fazia girar a roda com os pés, era uma roda enorme, cujo movimento retirava do rio ou posso feito na margem ( Lodeiros), água para regar os cultivos, de milho, meloais, trigo e outros cereais, através dos púcaros de barro (alcatruzes) que se encontravam presos, com varas de salgueiro, à mesma roda. Estas rodas eram frequentes nas margens do Tejo, do Nabão, do Ceira e sobretudo do rio Zêzere.

Saudades, ainda lembro.


E perco-me quando escrevo...
quando falo de tudo o que me lembro,
Mas perderia-me de qualquer forma.
Afinal, tudo é perda...
até este sistema de rega,
É um calar, um pensar e muito mais...
Escrevo porque preciso
Falar do que me lembro
Sobre um passado longínquo
Escrever é como colher abóbora
Plantada na beira do rio e regada pela roda.
É um vício do qual não me abstenho,
E do qual, vivo e me lembro.
É como veneno necessário.
Para matar a bicharada
Que destrói a plantação,
E se recompõe de fragmentos e sentimentos.
Nos recantos dos sonhos recolho informação.
Lembro na perfeição
As margens bucólicas
Dos rios que me banharam a alma.
Essas águas deixo escorrer
Pelos dedos dos pés
Que fizeram circular a antiga roda .
Não quero silenciar nada,
Nem a mais linda cantiga
Hoje nada me incomoda.
E em volta da roda cantava-se assim.

Sachadeiras do meu milho
Sachai o meu milho bem
Não olheis para o caminho,
Que a merenda logo vem.

© NanáG.