O TRABALHO DO CAMPO
E O SONHO
Nasci em devida altura
Numa quinta isolada
No meio de trabalho árduo
Dos braços do meu pai e a enxada,
Era uma vida dura
Havia na quinta muita bicharada
No meio de tanta ternura
Eu ficava extasiada.
O ar do campo m’alimentava
As flores o meu perfume
A voz dos meus pais m’acalentava
As estrelas tinham mais volume,
Iluminavam a noite e seu negrume
Não tinha medo de nada,
Tudo me tranquilizava,
O gato o cão, e o galo quando cantava.
Na minha quinta plantavam feijão
Semeavam batatas e ervilhas
A terra fértil regava-se com água da mina
Sempre a correr e bem fresquinha,
Tudo era plantado com o coração!
À noitinha um véu se espalhava
Cheio de pérolas no belo céu
Parecia o olhar de uma noiva
A espreitar sob o véu, olhando pra mim.
Na quinta usava um chapéu de Palha
Uma linda fita de cetim o enfeitava.
Cresci, queria ser professora
Sonhei sê-lo a cada dia,
Estudava mais e mais, sempre sonhadora,
Queria aprender
A ler e a escrever.
Um dia o querer mudou
Quando descobri a poesia
Outros momentos? Aqueles que deixei
Presentes, memórias que não acrescento.
Fito agora o poema que desconheço
Aquele que li na escola...
Enquanto amontoo os meus livros na estante
Tento lembrar de como era o verso.
Desafios e metas terão começado
Ao pensar num futuro apetecível e brilhante.
E a poesia não se aprende...
Nasce com a gente.
© Naná G.