sábado, 26 de setembro de 2020

NOVO OUTONO




NOVO OUTONO


Nesta manhã outonal e fresca
As folhas bailam no ar
Desprendidas pelo vento
Que acaba de passar.
Parecem fadas a cantar.
Numa explosão de cores ruivas
Tão vivas, de envejar e ensejar,
Inspiração para passear
De mãos entrelaçadas,
De baixo da luz terna do luar.
Rosas desfolhadas
Formam um sumptuoso e lírico tapete
Enquanto os pássaros arpejam
Ao som de invisíveis realejos.
Toda a paisagem é um pitoresco decor
De cores canções, e emoções,
Que batem forte nos corações.
Convida os mortais
Ao toque, às carícias, e aos beijos.
O tempo morno da estação
Esparge essências outonais
Tão sensuais e aromais
Que deslumbra os mortais.
Multifragrâncias hipnotizantes,
Dulçores florais,
Que a natureza nos transmite com paz
E instiga o sono,
Num abandono fugaz
Ao qual me rendo em dobro.
Numa sinfonia sem igual
Voltejam no horizonte,
Folhas, pássaros e aromas,
Fazendo desta paisagem
A mais mutável e deslumbrante estação
Mosaico cíclico, enche-me de emoção,
Este berço consentido de novas vidas,
Anuncia que chegou sem retardo,
O outono da mutação.

© Naná G.

VIVE E FAZ VIVER...




Vive e faz viver…


Nunca deixes de ser criança
Colhe na vida o que te convém
Uma vida sem esperança
É uma vida sem ninguém

Por isso vive acompanhada
Com todas as amizades
Para a vida ser amada
Colhe nela certas verdades

A vida é um salto de pardal
Todos nisso podem crer
Há momentos sem igual
Onde se colhe nosso prazer

Mas não os poderemos descurar
Para a vida ser bem melhor
Se tu dos outros souberes gostar
Para sempre vais colher amor

A vida pode muito bem ser adoçada
Com esses néctares especiais
Vivê-la de forma adorada
Torna os homens mais leais

Penitencio-me sobre o que vivi
Pelos pecados já cometidos
Mas vos digo que a vida senti
Em momentos do mais queridos

E é por esses belos momentos
Que eu agradeço a ti Senhor
Deste-me belos sentimentos
E no fundo também amor!

© Armindo Loureiro

BRAGANÇA




BRAGANÇA...


Julióbriga seu primeiro nome
Também Brigância deu-lhe Augusto
Imperador Romano de renome
O sobrinho de Cesar achou justo

Destruída p’las guerras, Cristãos, Mouros
Que se digladiaram durante anos
Mais tarde Benquerença teve louros
P’ra D. Sancho I novos planos

Bragança teve honras, feira franca
D. Afonso V fê-la cidade, branca,
Dada a sua altitude e ser fria

Tem um forte castelo a protegê-la
Se for a Trás os Montes podem vê-la
E a Igreja de Santa Maria.

© ARIEH NATSAC

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

O TEMPO ESTÁ A MUDAR!


Imagem: Zzig.comunidade


O TEMPO ESTÁ A MUDAR!


O tempo está a mudar!
A estação de outono
Com o vento a acenar
Constrói-nos o trono!

O tempo está a mudar
E que seja pra melhor!
Havemos de vindimar
Pra o reino do amor!

Se setembro traz vento
O outubro tem chuva a dar
E novembro contento,
O tempo está a mudar!

Havemos de ter alegria
Quando o dezembro chegar,
Pois, com toda a poesia
O tempo está a mudar!

© Ró Mar | 2020

AO CAIR DA FOLHA




Ao cair da folha – Outono


Sente-se o aroma do Outono no ar
e de manhã e á noite a refrescar.
Jardins coloridos e folhas a voar
é uma delícia andar agora a passear!

No Outono, novas flores e plantas a nascer
é a beleza da natureza que nos encanta...
É um novo recomeço, esperança para viver,
ás vezes chove e logo cada árvore dança...

As árvores sentem frio com as suas folhas a cair,
em bando, pássaros voam e outros vemo-los partir.
É altura de ver novas cores, outras pinturas surgir
e as pessoas procuram agasalhos para vestir...

O Outono é uma estação linda, colorida, com poesia
onde se sente mudança, outras cores e renovação.
Passear neste tempo é como sentir emoções com alegria,
viver rodeados de beleza e ter muito amor no coração!

© Bernardina Pinto

VIVER ESTA MARAVILHA




VIVER ESTA MARAVILHA


Amo o silêncio das tardes cinzas de outono
O desenho das aves gravados no céu
Imigrando para outras paragens,
A cor de mel que deslumbra o meu olhar.
As manhãs de Setembro,
Invadem-me os olhos,
Adocica-me a boca,
Entra-me pelos poros,
Atravessa-me a roupa
Do corpo e da alma,
Nesta razão de ver
As cores outonais pintadas
De romãs, de uvas, de castanhas
Das chuvas ambientais,
Descida de temperatura,
Cheiro de fruta madura,
Manhãs amenas, memórias,
Num acorde só
Trazido pelo vento e a água
Numa vibração
Sem sombra de mágoa
De rosas brancas e de folhas velhas
Tão jovens foram, como a minha alegria
De viver esta maravilha.

© Naná G.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

AS ALDEIAS E A SERRA




AS ALDEIAS E A SERRA


Como gosto da serra e das aldeias
Levantar-me bem cedo, dos sabores
Verdes pinhais dos cheiros e das flores
Da brisa matinal com que as penteias

Essas mentes libertas que premeias
Co’a humilde nobreza dos alvores
Que vestem a roupagem de outras cores
Onde fervilha o sangue em suas veias

Enches de ar pulmões e presenteias
Qualquer ser citadino sem favores
P’ra mim tua presença são amores
E sinto que estou preso em tuas teias

Nas festas não há lindas nem há feias
Já os moços parecem uns doutores
Levam fatos vestidos com rigores
P’ra conquistarem mais lindas sereias

Senhoras fazem doces e as geleias
Chegam à rua cheirosos os odores
Aguçando apetites dos senhores
Que fazem provas sem ouvirem peias…

Ao longe vejo um rio onde me enleias
Aonde gente – fresca – mata os suores
Saltando dos rochedos sem primores
Em tarde de domingo os recreias

Os prazeres do campo saboreias
Nas toalhas na relva ou cobertores
Pronto está p’ra estômago compores
Com manjares que atacas e anseias

Depois pensas melhor, e calcorreias
A terra onde os braços, ou tratores
Te mostraram o gosto e os valores
E onde a placidez tu chicoteias

Os ímpetos na serra tu refreias
Lá se acolhem rebanhos e pastores
Cães os salvam dos uivos malfeitores
Que fazem deste gado suas ceias

Casas de xisto são lindas ameias
Defendem as pessoas dos horrores
Onde o frio as chuvas dão tremores
E valem-lhe fogueiras quais candeias

Neste lindo cenário de odisseias
As aves, rapineiras, predadores
Olhando lá do alto, aterradores,
Os milhafres as águias eu filmei-as

Belezas naturais; eu desbravei-as
Sol me coloriu com os seus calores
Esqueci por completo as minhas dores
Regressando, saudades eu guardei-as.

© ARIEH NATSAC

XAILE OUTONAL




XAILE OUTONAL


As folhas a descaírem das árvores
É sinal dum outono a chegar,
Época de colher frutos e cores
Olhando o céu que nos quer acenar!

O estio tem os dias contados
Na lenda do luar dum agosto
De laranja-da-baía pelos prados
E nós a vindimar maçãs do rosto!

Num cinza-nevoeiro, que não chove
Nem choverá se nós não cantarmos
De guitarra na mão fado que trove!

E no xaile outonal bailarmos
Ao sabor do vento o que renove
A estação, como é bom sonharmos!

© Ró Mar | 2020

MÊS LINDO DE SETEMBRO!




Mês lindo de Setembro!


Setembro é um mês de mudanças e renovação,
acabam as férias para muitos e vem outras emoções.
Vem o tempo mais fresco pois acaba o Verão,
começa a escola e começam outras preocupações.

São novos colegas, professores, outras alegrias,
matar saudades, voltar a estudar e tentar saber,
dosear novas descobertas, amores e fantasias.
É tempo de responsabilidades e amizades fazer.

Setembro é um mês sentido e importante a valer,
é tempo de renovar coisas e todos os dias aprender.
Os estudos são prioridades que os alunos devem ter
mas sonhar e brincar fazem parte do seu viver…

Tempo de regressar ao trabalho, com boas energias,
caso não o tenha, arranjar outras maneiras de viver.
Muitos partem para outros locais, como andorinhas
para ajudarem suas famílias e outro trabalho poder ter.

 © Bernardina Pinto

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

A NOITE...



© Lúcia Ribeiro

MEU DOCE OUTONO


Imagem: ÉVA$iON


MEU DOCE OUTONO


Outono ruivo de névoas brancas
Estação de minh' alma, de beleza ímpar,
Se um dia lágrimas descerem ao meu rosto
Não irei sequer te perguntar,
Não vou pensar no porquê
Apenas nas folhas do Outono vou pensar.
Elas caem no fim do Verão
Para na Primavera se renovar.
Uma árvore, uma flor
Ficam despidas,
A beleza que tinham
Transforma-se em feiura,
Nada fica igual, nada existe para sempre,
Só as aparências e o vazio existem
Simultaneamente e consideravelmente.
Meu doce Outono que colores de ruivo
Todas a Natureza...
No quintal da minha vida,
Sempre aquela música colorida
A velha canção sempre ouvida,
Sempre, sempre a mesma.
Sobre a minha vidraça desce
Tristeza...! Encanto...! Desejo?
Já nem tento entendê-lo,
Trago no peito um gozo incerto,
Uma dor, uma carícia em controverso.
Na Primavera foi doce a espera,
O verão aqueceu meu coração,
No Outono não houve vinda nem retorno,
Que será do meu inverno?
Sem calor, sem amor... que inferno!
Para a mágoa apaziguar
Saio à rua para passear
Na beira do caminho falo sozinha
Com a oliveira que de mim se abeira,
Colho alguns cachos de uva pequenos,
Que pendem de uma videira
E relembro que o Outono está quase a chegar,
Caem as primeiras folhas
Paro para as apanhar,
Já secas, ruivas e amareladas
Fazem um ruído abafado
No chão quando as tento pisar.
Ao redopiar largam no ar
Um cheiro de sono,
Ah doce Outono...!

© Naná G.

O OUTONO ESTÁ NO AR


Imagem: SAi$ONS


O OUTONO ESTÁ NO AR


O outono está no ar
Com os tons da estação
E em nós vem para ficar
Com poesia de coração!

O outono está no ar
Com os frutos no chão
E devemos os apanhar
Com toda a imaginação!

Das árvores ao léu
Outros verdes a brotar
E das folhas moscatel
O outono está no ar!

Dos dias coloridos
Outros ventos a respirar
E das castanhas aliados,
O outono está no ar!

© Ró Mar | 2020

PALHAÇO



PALHAÇO


Quem é aquele que nos faz rir?
Às vezes com vontade de chorar
Quem é aquele que toca e dança?
Quando a sua alma está triste
Quem é o enlevo das crianças?
Quem é aquele que se mascara?
Mesmo sem estar no Carnaval
Todos o conhecemos
Todos nos divertimos com ele
Quantas crianças
Não lhe lembrarão
Filhos desaparecidos?
Quantos dias
Não lhes lembrarão
Dias macabros?
No entanto sua alegria
É contagiante
Mas ninguém se apercebe
Dessas tristezas
Toda a gente lhe exige alegria
Palhaçadas
Ah, mas quantas vezes
Ele chora
Na solidão do seu camarim
Nesse choro
Ele expande
Ele mostra
A sua verdadeira face
Libertando sua alma
Chorando
Chorando
Chorando
Chora palhaço
E diz a toda a gente
Porque choras
Para que haja alguém
Que deixe de rir de ti
Porque na vida
Cheia de risos e abraços
Todos temos um pouco
De palhaços.

© ARIEH NATSAC

terça-feira, 22 de setembro de 2020

A GRANDE MIRAGEM




A GRANDE MIRAGEM 


“No Dia Internacional da Paz 2020”


Eu vi uma pomba branca
À volta do mundo a voar
Buscando com alma santa
Algum lugar para poisar.

Deu sete voltas e meia
Ramo de paz embicando
E de tristeza ficou cheia
Com seu sonho definhando.

A guerra e o ódio profundo
Com homens a combater,
Ela viu por todo o mundo
Não podendo assim descer.

Viu a fome e viu a peste,
A injustiça e corrupção,
Ela viu doença agreste
E falta de compreensão.

Ela viu crime mascarado
E diferenças abissais,
Viu poder encapuçado
Na incúria dos Maiorais.

Ela viu tanta miséria
Como nunca se viu tanto
E ao ver a coisa tão séria
Ia morrendo de espanto.

Ela viu falsas intenções
E promessas sem cumprir,
E viu nobres Convenções
Com projetos a fingir…

Ela viu enorme pobreza
E a riqueza desbaratada,
Viu bancos de farta mesa
E os pobres sem terem nada.

Seguiu sua rota voando
Mas deixou cair a paz,
Um só dia, apenas sonhando,
Havê-la ou não tanto faz.

Grande, grande é a Viagem,
E um sonhar desiludido,
Mundo-deserto é a miragem
Em busca do tempo perdido!

© Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA

O OUTONO ESTÁ NO AR



© Ró Mar

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

INDECISÃO




INDECISÃO


Quando a vida te pede que decidas,
Que traces teu destino sem ajuda,
O que era certo de repente muda
E tuas decisões ficam perdidas...

Tua mente hesita, mira, estuda,
Tuas certezas morrem e duvidas,
Queres subir, apenas tens descidas
E não lembras de nada que te acuda...

Desejas ser de novo a criança
Cujo pranto era sempre a solução
Que te dava o sorriso e a esperança

Entras no sonho antigo e vês então
Que o destino não é mais que uma dança
Ao ritmo do bater do coração!...

© Carlos Fragata | 2020

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

RITUAL DAS LIBÉLULAS


Ilustração: obra de Rene Cloke


RITUAL DAS LIBÉLULAS


Libélulas de olhos grandes e brilhantes,
Sobrevoam os rios antigos cor de prata.
Saudosas dos beijos de índios amantes,
E reféns dessa, realidade que nos mata.

Libélulas frágeis, divinas, transparentes.
Devolvam-me, esse vosso romantismo.
Beijem-me o corpo nas águas correntes,
Num ritual de xamã, de puro misticismo.

Venham e suguem os meus poros finos,
Limpem-me a alma e meu corpo agora!
Com esses vossos voos, suaves divinos.
Antes que o crepúsculo mate a Aurora.

© Joaquim Jorge de Oliveira

terça-feira, 15 de setembro de 2020

HOMENAGEM A BOCAGE




O DIA EM QUE EU NASCI 


“Homenagem a Bocage” (*)


O dia em que nasci seja louvado,
E tudo quanto existe se exalte
Para que nada ao Universo falte
E possa eu dizer que sou honrado.

Passei, a minha vida, angustiado
Entre a dor de a viver e o seu esmalte,
Naquele sonho em que sofri desfalque
Por nunca o conseguir ter realizado.

Mas eu nasci, cresci e amadureci,
Correndo todo o orbe para aprender
A desbravar, a lutar e a escrever…

Entre o sim e o não daquilo que vivi,
Ficaram versos feitos de verdade
À clara luz do esmero e qualidade…

Bocage sou – e com orgulho serei!
Aquele ser humano qu´ engendrei
De vir a ser pioneiro da Liberdade!

© Frassino Machado

In OS FILHOS DA ESPERANÇA

(*) – Bocage, patrono da «Tertúlia Poética América Miranda»


Manuel Maria Barbosa du Bocage 

nasceu em Setúbal,

a 15 de Setembro de 1765

 

JÁ BOCAGE NÃO SOU 


Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento;
Musa!... Tivera algum merecimento
Se um raio de razão seguisse pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria.

Outro Aretino fui ... A santidade
Manchei – Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!

© Barbosa Du Bocage

In RIMAS




TERTÚLIA POÉTICA AMÉRICA MIRANDA


ELMANO SADINO (*) – Hino a Bocage


Letra e música de Frassino Machado


Elmano, Elmano Sadino
Tens força de tradição
Nossa alma canta-te o hino,
Com versos do coração.
Elmano, Elmano Sadino,
És sempre a nossa canção!

És poeta nascido sobre o Sado azul
Criaste um modelo de íntegra história
Teus versos correndo p’ lo norte e p’ lo sul
São alma no povo da tua memória.

És poeta do mundo por mar e por terra
Fizeste odisseia por cidades mil
Teus versos de paz e teus versos de guerra,
Vão deste país ao distante Brasil.

És poeta vivido em justa alegria,
Nos ricos, nos pobres, sentiste equidade
Teus gestos, teus gritos em doce harmonia
Abriram caminho para a liberdade...

És poeta guerreiro, teu lema é justiça,
São limpos os cantos que atearam paixões,
Venceste os fantasmas do ódio e da liça
Morando p’ ra sempre nos fiéis corações.

© Frassino Machado

In MENSAGEIRO CANTANTE

(*)  – pseudónimo de Barbosa du Bocage

domingo, 13 de setembro de 2020

DE LISBOA ATÉ AO CABO…


Imagem: Cabo da Roca | Portugal


DE LISBOA ATÉ AO CABO…


Como te admiro Lisboa
Do alto do teu castelo
Aonde o sol te atordoa
Neste cenário tão belo

Desces vaidosa e ladina
Num andar que não ilude
E a Mouraria fascina
Com a senhora da saúde

E aqui mesmo em oração
Onde o fado é mesmo vicio
Na rua do Capelão
Nasceu Fernando Maurício

Seguindo o teu ritual
Na calçada Portuguesa
Onde o Marquês de Pombal
Te alindou com mais nobreza

De amarelo ia ligeiro
Um elétrico atrelado
Onde o comum passageiro
Andava por todo o lado

Alegria não te falta
Mesmo no escuro basalto
Anda e desanda a malta
P’las noites do bairro alto

Onde Camões e Pessoa
Não deixam de ser lembrados
Sua mística ecoa
Entre graçolas e fados

E o lisboeta sussurra
Entre as vielas de Alfama
Com muitos copos e surra
Muita gente se difama

Passo largo, co’a maré
Tem no Tejo um aliado
Cacilheiro leva o Zé
De Lisboa ao outro lado

Quando a noite desfalece
Acorda-se com um café
E muita gente aparece
Nas docas do Cais do Sodré

O dia acorda risonho
Co’o cheiro da maresia
Misturada com medronho
Que serve de anestesia

O bulício vem depois
O barulho dos motores
Onde puxam dos galões
Meliantes e doutores

Mas a cidade se espraia
No meio do sol ou bruma
Tanta calça tanta saia
Que desliza como espuma

Sob a terra ou mesmo em cima
Lá começa o desafio
Cada hora é uma rima
Cada passo um arrepio

Aparece quem trabalha
O que vai sendo tão raro
Desespero se amortalha
Porque o pão está mais caro

Cada vez há mais pedintes
Que não querem fazer nada
Já não fumam os três vintes
Preferem outra pedrada

Por uma linha se desce
Vê-se beleza sem par
No verão mais apetece
Essa mesmo desfrutar

Vem Belém lembrar história
Época dos descobrimentos
É o nosso orgulho e glória
Expressa com monumentos

Em seus jardins se passeia
Há sombra que é muito grata
Bem perto se saboreia
Os belos pasteis de nata

O encanto ainda é maior
Di-lo cético turista
Pois o mar e o seu calor
E a perícia do surfista

Carcavelos e a Parede
S. Pedro mais Tamariz
Deitar ao sol – tudo pede –
Faz muita gente feliz

Do bronze segue-se a noite
Cascais é um mar de gente
Doce brisa é seu acoite
Com um luar diferente

Dois passos mais adiante
Está a boca do inferno
Onde o mar é provocante
Co’a sua fúria de inverno

Seguindo p’la estrada fora
Vê-se a imensidão do mar
Que desbravamos outrora
Para mais longe chegar

Se o vento vem do norte
Faz da estrada um areal
Temos então pouca sorte
Levantou-se um temporal

Tudo tem sua beleza
Sem se conseguir passar
O vento montou a mesa
Com areia pelo ar

Pelos Oitavos ficamos
Onde Hildebrand encalhou
Hoje ainda nos lembramos
P’ra onde o mar o levou

Entre rochas e areais
Estas belezas eu “pincho”
Por serem tão naturais
Marinha, Abano e Guincho

Cada uma é diferente
Entre o mar e os pinhais
Mas aqui seja prudente
Porque as ondas são fatais

Foi aqui neste caminho
A quem o Camões chamou
O mais ocidental cantinho
Do Portugal que cantou

Cabo da Roca mostrou:
Finda a terra o mar começa
Um povo se aventurou
Tendo mundos na cabeça

Aqui findo esta viagem.
Quanta beleza nos toca
Desfrutando esta paisagem:
Lisboa, Cabo da Roca.

© ARIEH NATSAC

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

O SETEMBRO ESTÁ NO AR!




O SETEMBRO ESTÁ NO AR!


O setembro está no ar
E é bem-vindo ao planeta
Para a natura refrescar
E dar cor à rua cinzenta!

O setembro está no ar
E é o tempo da mudança
De estação e de pensar
Que há ventos de esperança!

O setembro está no ar
Pelas mãos duma criança,
No sonho de respirar
Há sílabas de bonança!

O setembro está no ar
E o equinócio de outono,
Que havemos de vindimar
Pra ter uva todo o ano!

O setembro está no ar,
Na montanha de emoções
Há frutos para recriar
E cultivar corações!

O setembro está no ar,
Folhas secas pra varrer,
O mundo para abraçar,
Pois, a vida é pra viver!

A estação quer começar
No seu ritmo habitual,
O setembro está no ar
Pra ser época normal!

Nas palavras deste mote
Há poesia para passear
E vontade que o suporte,
O setembro está no ar!

A poesia, que há nas árvores,
Folha-a-folha libertar
Galhos pra que nasçam flores,
O setembro está no ar!

Gente de todas as idades
O setembro está no ar
Para colmatar saudades,
Há vida vamos cantar!

Esperança é nosso lema,
Pois, queremos continuar
A fazer da vida poema,
O setembro está no ar!

© Ró Mar | 2020

MEU MAR DE AMAR...


Meu mar de amar…


Olhei o mar
Lá longe no horizonte
Há momentos que são de amar
Se alguém tem algo que vos conte

O mar é infinito
Se é que a terra é redonda
Mas ele é tão bonito
Se a vida ele não monda

Quando no tempo o sulquei
Vivi uma vida diferente
Será que sabes que o amei
E que nele eu estava contente?

Voguei nas suas ondas revoltosas
Sulquei também seu mar chão
De todas as ondas famosas
Há as que me encheram o coração

A onda que vai e vem
E que leva e traz o amor
É uma onda que convém
Impregnada do seu humor

Quando olhava esse mar
Na longínqua distância
Eu sabia que algo iria amar
Com toda a minha constância

Hoje pensando bem
Lembro um passado de glória
Em cada Porto amei alguém
Que hoje não passa de história

Por vezes perdi a respiração
Tal era aquilo que eu via
Mulheres cuja paixão
Me davam na sua alegria

Hoje para aqui esquecido
Vivo apenas de lembranças
Sei que fui bastante querido
Agora é só palavras mansas

Parti um dia de mim
Deixei de ser quem era
Passei a ser assim
O princípio duma quimera…

© Armindo Loureiro

O FERREIRO



O FERREIRO


Ferreiro que malha ferro
Malha contrafortes da vida
Na força de um ferro-velho
Em bigorna consumida

É de chapa o seu portal
De chumbo o seu caixão
Sua têmpera é imortal
Dum fogo sem ter paixão

Maçarico que tudo queima
Sem verdura nem paisagem
É martelo qu’em tudo teima
Em contrapor a mensagem

Quando o ferro é mordido
Até pode virar um cão
Ladra quando é batido
Pela força do pulmão

Na força de um talento
Que faz jus ao justiceiro
Lenta, lenta, lento, lento
Bate a vida no ferreiro.

© ARIEH NATSAC

domingo, 6 de setembro de 2020

MOMENTOS DA VIDA!


Momentos da Vida!


Espero o Sol para sorrir
Como quem espera a magia
De alguma mudança para agir
Ter esperança no dia a dia.

Quimeras sonhadas e sentidas
Umas reais e outras para sonhar
Alegrias para sarar certas feridas
Sorrir e ter alguém para amar.

Há muitos momentos na vida
Que eu gostava de ser invisível
Para poder passar despercebida
Ter paz e não estar disponível.

Tem dias que gosto da multidão
De estar com de gente animada
Outros, que gosto da minha solidão
Do meu espaço e ficar calada.

Durante o dia há momentos diferentes
Há alturas que sentimos tristeza
Outras horas, nos sentimos quentes,
Aconchegados pelo amor e beleza.

A vida é uma mistura de sensações
Umas tristes e outras desejadas
Interessa saborear as emoções
Que nos fazem felizes e amadas.

A RODA DA ESPERANÇA




A RODA DA ESPERANÇA


Quando o tempo é incerto a estação 
É outra, queria eu que fosse primavera!
A vida vai rolando numa ilusão,
Porque ainda há esperança e quimera.

A tendência de florir o inverno
É tão natural quanto esta nota,
Que o movimento não se denota
E de mansinho preenche o caderno.

E levemente sobre o verde prado
A vida vai rolando uma mudança,
Porque ainda há vontade de ser amado.

E a natureza ganha confiança
Reflectida num poema perfumado,
Deslizando a roda da esperança.

© Ró Mar | 2020

A RODA

 

A RODA


Quem se lembra deste sistema de rega?
Existiu uma época onde todo aparelho mecânico era accionado por tracção animal ou aproveitando as forças humanas, ou inventos que hoje nos parecem um tanto rudimentares, mas que cobriam perfeitamente as necessidades dos nossos antepassados.
Um dos mais famosos era a roda de água. Aproveitando a força humana, os nossos tetravós eram capaz de regar grandes extensões de terra com este sistema que, de outro modo, custaria muito esforço para accionar.
Quando não havia burro ou cavalo, era o esforço humano que fazia esse trabalho.
Era um tempo de muito trabalho mas também muito alegre.
Enquanto se caminhava até ao sol pôr em cima da roda, cantava-se enquanto os cântaros de lata ou barro, tiravam a água. entoavam canções populares que se ouvia a grandes distâncias. Apesar de cansativo não se sentia tristeza, enquanto se fazia girar a roda com os pés, era uma roda enorme, cujo movimento retirava do rio ou posso feito na margem ( Lodeiros), água para regar os cultivos, de milho, meloais, trigo e outros cereais, através dos púcaros de barro (alcatruzes) que se encontravam presos, com varas de salgueiro, à mesma roda. Estas rodas eram frequentes nas margens do Tejo, do Nabão, do Ceira e sobretudo do rio Zêzere.

Saudades, ainda lembro.


E perco-me quando escrevo...
quando falo de tudo o que me lembro,
Mas perderia-me de qualquer forma.
Afinal, tudo é perda...
até este sistema de rega,
É um calar, um pensar e muito mais...
Escrevo porque preciso
Falar do que me lembro
Sobre um passado longínquo
Escrever é como colher abóbora
Plantada na beira do rio e regada pela roda.
É um vício do qual não me abstenho,
E do qual, vivo e me lembro.
É como veneno necessário.
Para matar a bicharada
Que destrói a plantação,
E se recompõe de fragmentos e sentimentos.
Nos recantos dos sonhos recolho informação.
Lembro na perfeição
As margens bucólicas
Dos rios que me banharam a alma.
Essas águas deixo escorrer
Pelos dedos dos pés
Que fizeram circular a antiga roda .
Não quero silenciar nada,
Nem a mais linda cantiga
Hoje nada me incomoda.
E em volta da roda cantava-se assim.

Sachadeiras do meu milho
Sachai o meu milho bem
Não olheis para o caminho,
Que a merenda logo vem.

© NanáG.

ATÉ QUE A VOZ E A MÃO, NOS DOA

 

ATÉ QUE A VOZ E A MÃO, 

NOS DOA


Neste cantinho do fado
Sinto-me bem motivado
Para uma boa desgarrada
Eu não sei cantar o fado
Pois sinto ser um bocado;
Canção da Pátria amada

Sint’ orgulho e me apraz
Pois mostro do que é capaz
Esta gente lusitana
Mesmo sem haver guitarra
O fado tem sempre a garra
E mostra-nos a sua fama

Do mundo vêm comentários
Connosco estão solidários
Gostam do nosso jeito
Fado é dor e é triste
Mas a ele ninguém resiste
Mesmo chorado a preceito

Vamos lá rapaziada
Numa inspiração afinada
O fado não é só Lisboa
O fado é de todos nós
Mesmo quando a nossa voz
A voz e a mão, nos doa.

© ARIEH NATSAC

sábado, 5 de setembro de 2020

O OLEIRO


OS CÂNTAROS DE BARRO


QUEM LEMBRA?


Onde estarão os cântaros de barro?
Cântaro de barro
Que nasceu da mão do oleiro,
Cântarito, guardando água
Da neve que escarpe a mão desnuda,
Perante a mão que se fechou.
Onde o verbo se acercou do golpe
De uma alma antiga.
Cântaro de barro, objecto relíquia,
Brilho que o consolo não alcança,
Brilho.
Dos mortos,
Quase mendigos.
Cântaros de barro, termos aflitos
Que tanta vez deixou a asa
Na fonte de águas claras, abençoadas.
Na respiração de cinzas enfiada,
Alma fatigada, pelo trabalho árduo
Pela lavoura e a enxada.
Hora passava, hora chegava
Com respiração de cinzas confinadas,
Hora passava, hora chega
Da fonte, com sua talha de barro avermelhada,
Ante o sombreamento das pálpebras
E olhos fechados durante o sono,
Moedor de puras almas.
Cântaro de barro, prato de sopa,
Não procures nos meus lábios a tua boca,
Nem na minha porta o estranho
Púcaro de barro...
Tantas noites mais acima,
Passava o oleiro com sua terra púrpura,
Para fazer o pote, para fazer o vaso
E o cântaro com asa frágil,
Mas a calmaria veio e a tempestade veio,
E todos os oceanos vieram reunidos...
Lavando o barro e tu escavavas e o verme ainda escava,
E aquela música remota diz: eles cavaram.
Oh tu, oh ninguém, oh nenhum:
Pra onde foi se não fez nada,
O oleiro e sua terra avermelhada?
Extinguiu-se para sempre
O cântaro de água fresquinha...
A eternidade está cheia deles,
Ali, desintegrando-se,
Aquele que fazia a roda rodar
No termo em que apareceu
Como profissão, o oleiro a trabalhar.
O que podemos dizer
Duma profissão quase extinta?
Eles outras preferiram,
Retiraram-se com um simples gesto
Como quando tudo começou.
O oleiro quase dançou,
Extinguiu-se com outro oficio,
Da terra moldada, penas restou...
A dança de duas pequenas palavras,
De Outono, de sede, de nada!

© NanáG.

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

O PESCADOR


O MAR ESTÁ BRAVO!


Há alturas que nem o sermão aos peixes
Vale! O mar está bravo e não é de hoje!
E ir pró mar lançar a rede por uns peixes
Não está a render nada, tudo foge!

Foge o novo, fica o velho só e cansado!
A pesca artesanal é de muito risco e labor
E o turismo fez negócio enraizado,
Para a povoação ribeirinha dá calor!

Calor até demais, não há pela vista
Memória que não sue o conquistado!
Portugal de todos os mares, rei do pescado!

Há alturas que nem o pescador tem salvação!
Não há condições prá pequena embarcação,
O mar está bravo e em terra não há turista!

© Ró Mar | 2020

O TRABALHO DO CAMPO E O SONHO


O TRABALHO DO CAMPO 

E O SONHO


Nasci em devida altura
Numa quinta isolada
No meio de trabalho árduo
Dos braços do meu pai e a enxada,
Era uma vida dura
Havia na quinta muita bicharada
No meio de tanta ternura
Eu ficava extasiada.
O ar do campo m’alimentava
As flores o meu perfume
A voz dos meus pais m’acalentava
As estrelas tinham mais volume,
Iluminavam a noite e seu negrume
Não tinha medo de nada,
Tudo me tranquilizava,
O gato o cão, e o galo quando cantava.
Na minha quinta plantavam feijão
Semeavam batatas e ervilhas
A terra fértil regava-se com água da mina
Sempre a correr e bem fresquinha,
Tudo era plantado com o coração!
À noitinha um véu se espalhava
Cheio de pérolas no belo céu
Parecia o olhar de uma noiva
A espreitar sob o véu, olhando pra mim.
Na quinta usava um chapéu de Palha
Uma linda fita de cetim o enfeitava.
Cresci, queria ser professora
Sonhei sê-lo a cada dia,
Estudava mais e mais, sempre sonhadora,
Queria aprender
A ler e a escrever.
Um dia o querer mudou
Quando descobri a poesia
Outros momentos? Aqueles que deixei
Presentes, memórias que não acrescento.
Fito agora o poema que desconheço
Aquele que li na escola...
Enquanto amontoo os meus livros na estante
Tento lembrar de como era o verso.
Desafios e metas terão começado
Ao pensar num futuro apetecível e brilhante.
E a poesia não se aprende...
Nasce com a gente.

© Naná G.