A VIDA
A vida diz-me que não posso ficar a assistir a este espectáculo sentada aqui na plateia.
A vida obriga-me a saltar para a cena, grita-me aos ouvidos que eu sou a personagem principal desta história e não me posso esconder por detrás do cenário, à espera que ninguém repare em mim.
Tenho que representar todos os dias esta peça de teatro que me foi atribuída pelo destino, mesmo sem saber o que consta... do guião inicial, tenho sempre que representar de improviso e seguindo os diálogos certos para poder acompanhar a vida dos outros personagens com quem me vou cruzando nas cenas desta peça, que sei quando começou, mas que não sei quando vai terminar.
Aqui não há cenas repetidas, os personagens são únicos, não existem duplos para representarem por nós aquelas cenas mais arriscadas. Somos nós que ali estamos no meio do palco, sem máscaras e sem ajudas, com a obrigação de sabermos o papel que desempenhamos, tudo porque a vida não nos permite fazer qualquer ensaio.
Por vezes, surgem alguns sobressaltos, faltam-nos as palavras certas para concluir a cena, para dizer o que o nosso coração sente e o que os outros querem escutar, então instala-se o silêncio e parece que a vida parou, mas são apenas breves segundos até que a peça reinicie, a vida não nos deixa parar e o espectáculo tem que continuar!
A plateia está toda de olhos em nós e quer ver como tudo vai terminar, mas não tenhamos ilusões porque não existirá o aplauso final...
© Angela Caboz