terça-feira, 31 de dezembro de 2019

A VIDA É O NOSSO BERÇO




A VIDA É O NOSSO BERÇO


A vida é o nosso bem maior,
tão maior quanto a natureza,
o milagre de nascer, o amor,
tão amor quanto a nossa beleza.

Saber viver é a melhor arte,
tão melhor quanto o espectro solar,
a janela espelhada p' lo mar,
tão mar quanto a nossa gente.

A vida é para ser vivida,
tão vivida quanto sonhada,
tão sonhada quanto amada.

Saber viver é o batismo ao universo,
tão universo quanto o nosso verso,
tão verso quando o nosso berço.

© Ró Mar

ODE AO ANO NOVO 2020




ODE AO ANO NOVO 2020  


Um Feliz e Bom Ano Novo Dois Mil e Vinte
Eis o meu voto sincero de todo o coração
É aquela simples oferta que tenho mais à mão
Em dupla dose com desejável requinte.

Cada sonho acasala sempre com desejos
E todo o ser humano, fiel contribuinte,
Quer para seus amigos, por entre mil sobejos,
Um Feliz e Bom Ano Novo Dois Mil e Vinte.

Também eu, que me honro de ter sentimento,
Navegando ansioso nesta onda de emoção
Aqui afirmo, imbuído de contentamento:
Eis o meu voto sincero de todo o coração!

Eu sei que há prendas e até truques por benesse
Em discreta e subtil, quão frágil, sublimação,
Todavia, e à margem de qualquer interesse,
É a simples oferta que tenho mais à mão.

Não sou artista nem pretendo usar um palco,
Nem sequer gosto duma vil paixão que pinte,
Apenas, e tão só, a partilha que exalto
Em dupla dose com descontraído requinte.

Que todos os meus amigos aceitem este voto
Para que o próximo ano se abra assaz bem largo
Duma vida feliz - à parte dum mundo roto
Repleto de ilusões e com sabor amargo…

Feliz Ano também – sendo “o ano do rato” –
Que seja um ano de uma colheita tamanha
E qu' toda a boa gente, tomada de fino trato,
Não deixe um rato ser parido por montanha!

Frassino Machado
In AO CORRER DA PENA

A DESPEDIDA DO ANO DE 2019


Pintura de Claude Monet


“A DESPEDIDA DO ANO DE 2019”


O ano vai passar a cantar a vida como um rouxinol:
Cigarra imprevidente, incauto acostumado,
Ele nunca quis saber, alegre e descuidado,
Se a flores perdiam o viço ou se morriam ao sol!

Como o ano velho sabia cantar! Cabeça estonteada
Na procura febril do seu melhor cantador
Trazia a transbordar, a boca incendiada
De mentiras, e de novos desejos sem pudor.

E tudo parecia tão bom, e tudo parecia tão doce!
Quem me dera que assim para a minha vida fosse…
Mas o que foi não é. É Inútil e revolta.

Cuidado! A vida é breve, e assim é triste,
O que ela tem de bom, só na verdade existe.
E a nossa primavera é só uma, e não volta!

© Alfredo Costa Pereira

LOGO À MEIA NOITE




LOGO À MEIA NOITE


Logo à meia noite correrá o pano
Cessará um Acto sem que se renove
Ficam os actores, mas o velho ano
Morre pela idade... dois mil dezanove

Mais de dois mil anos! Uma infinidade
Desde o nascimento na velha Belém
Em pobre choupana, na precariedade,
De um Homem de Paz, que pregava o Bem

Fosse Ele quem fosse na filiação,
Nascido do povo ou de origem divina,
Estaremos unidos nesta opinião
De que vale a pena seguir-Lhe a doutrina

Falou de equidade, de amor, de carinho,
De paz, de concórdia, do homem-irmão
Indicou a todos qual era o caminho
À luz da palavra, bondade e perdão

Seus ensinamentos foram caso sério
Para o homem vil, tornando-o iracundo;
Que a partir de Roma formara um Império
A ferro e a fogo mandando no mundo!

E logo O mataram, com tantos maus tratos
(Que ousou pôr em causa, ganâncias, poder...)
Mas ainda hoje governam "Pilatos"
Com os mesmos actos, que lhes dão prazer

Porquê? - Interrogo. Não há quem me diga?
- Se os Impérios caem à luz da razão,
Como os anos morrem - que o tempo os obriga -
Ou morremos todos, quer ricos quer não!

A vida é de instantes, é breve passagem
No tempo que voa e vai tão veloz...
Podia ser bela, cómoda a viagem
Bastando só querermos... depende de nós!

Senhores da guerra, do Quero e do Posso
Olhos que só vêem ganância e cifrões,
O mundo é de todos e nunca só vosso!
Discutam ideias, aclarem razões!

Logo à meia noite virá mais um ano...
- De paz, de amizade, de amor, se componha!
Seja festejado, no quotidiano!
Dos erros passados tenhamos vergonha!

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

TROVAS A SÃO VENCESLAU




TROVAS A SÃO VENCESLAU 


«São Venceslau de Praga, 907 - 935»


Se foi Barão, ou Duque ou Rei,
Prós Praguezes tanto lhes faz,
Foi herói, foi Príncipe da paz
E é, do seu coração, sua Lei.

O pai foi Duque da Boémia
Que a sua vida perdeu cedo,
Foi criança feliz sem medo
E na Fé cresceu alma gémea.

Venceslau de seu nome e graça
Mãe madrasta, avó ternurenta,
Que todos os ódios enfrenta,
Co´ um irmão de muito má raça.

Fez-se mui sábio e cuidadoso,
Amigo das crianças e dos pobres,
Arrecadou inveja dos nobres,
Muito humilde e generoso.

Na vida cristã inserido,
Com apurada educação,
Sempre disposto a dar a mão
De abraço cordial estendido.

Noite longínqua de Natal,
Neve caindo pelo caminho,
Ao pobre deu calor e carinho
Num aconchego fraternal.

De porta em porta, cantando hino,
Distribuiu pão e harmonia
E a quem precisava de alegria
Deu rumo, à vida em desatino.

Como adolescente charmoso,
À parte as invejas da mãe,
Foi coroado rei, porém,
Sem um futuro auspicioso.

Reinou alguns anos, reformou
O que bem pôde reformar,
Fez mais riqueza acrescentar
E a sua coroa justificou.

Mas invejas e mil traições,
Sofreu, de ignóbeis cortesãos,
Sempre prontos a sujar as mãos
Mascarados de mil paixões.

Com a sua mãe penando bravo
Enfrentou seu irmão ambicioso
Qu´ usurpando o trono vergonhoso
O matou sem apelo nem agravo.

Com a sua morte, por encanto,
Todo o povo se engrandeceu
E aquele país nunca conheceu
Rei tão maravilhoso e Santo.

A S. Venceslau, minhas trovas
Fazem-lhe o preito e a liturgia,
São orações, litanias e poesia
Com variações puras e novas.

Com ele e com Santa Ludmila –
A mais justa de todas as avós –
Oremos a Deus qu´ escute a voz
Da nossa alma que Luz destila!

© Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA

RECEITA DE ANO NOVO




RECEITA DE ANO NOVO


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser, novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegrama?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

© Carlos Drummond de Andrade

domingo, 29 de dezembro de 2019

OVO FRITO




‘Ovo frito”  


Gosto muito de ovo. Ovo frito. Ovo escaldado, com pão torrado. Coisa boba, o fato é que comecei a pensar sobre as razões por que gosto de ovo. Lembrei-me…

Meu pai era viajante. Passava a semana fora de casa. Voltava às sextas-feiras, no trem das oito. Noite escura, o trem das oito vinha apitando na curva, resfolegando de cansado, expelindo enxames de vespas vermelhas, chamuscava uma paineira, entrava na reta, passava a dez metros da nossa casa, todos nós estávamos lá, o pai com a cabeça de fora, sorrindo, e todos corríamos para a estação. Ele vinha com fome e sujo. Água quente não havia. Mas não tinha importância. Da leitura do Evangelho havíamos aprendido de Jesus, no lava-pés, que quem está com os pés limpos tem o corpo inteiro limpo. A coisa, então, era lavar os pés. E esse era o costume geral lá em Minas. Minha mãe esquentava água no fogão de lenha, punha numa bacia e eu lavava os pés do meu pai. Depois de limpo, ele se assentava à mesa e o que tinha para comer era sempre a mesma coisa: arroz, feijão, molho de tomate e cebola, ovo frito e pão. Ele me punha assentado ao joelho e comia junto.
Ah, como é gostoso comer pão ensopado no molho de tomate, pão lambuzado no amarelo mole do ovo! Era um momento de felicidade. Nunca me esqueci. Acho que quando enfio o pão no amarelo mole do ovo eu volto àquela cena da minha infância. Os poetas, somente os poetas, sabem que um ovo é muito mais que um ovo…

© Rubem Alves, crónica do livro “Ostra feliz não faz pérola
Editora Planeta, 2008

AMOR



© Neidinha Borges

O AMOR QUER SER PRESENTE




O AMOR QUER SER PRESENTE


O amor não vive de passados, nem sequer se alimenta de futuros.
Quando sentimos a necessidade de inventar futuros é porque a muralha dos sentimentos está a desmoronar. Querer ver para além do horizonte do tempo é ter medo das pedras que estão a começar a soltar-se, deixando que a tempestade da incerteza ganhe espaço entre os dois amantes.
O amor quer ser presente.
O amor quer ser vivido sem tempo, longe do tic-tac de um relógio.
Alimenta-se de emoções reais e impensadas.
O amor aquece-se no calor de dois corpos e não na temperatura de uma qualquer estação do ano.
Passados para o amor são um álbum de recordações para desfolhar numa noite fria em que nos apetece reviver bons momentos junto a uma lareira.
Futuros são sonhos que podem esperar para depois, enquanto nos perdemos com as envolvências do presente, que não deixa espaços livres entre os nossos abraços.
E tudo o que sonhamos é que os abraços que nos pertencem sejam sempre o nosso melhor presente. Que eles fiquem em nós, sem que o tempo os descubra e os tente descolar da nossa pele.
Nada nos conforta mais num dia frio do que a certeza de que há um abraço quente que nos pertence.
Talvez pareça que dito desta forma que o tempo é inimigo do amor. Que o aprisiona, que lhe corta as asas e não o deixa voar. Mas, não essa a realidade, o tempo é tudo o que fazemos com o amor que faz sentirmos-nos vivos.
O amor é livre, protege e conforta-nos. Sem ele nada seriamos, apenas almas despidas a quem nem o calor excessivo do Verão haveria de aquecer.
O amor é a nossa melhor capa, aquece-nos o coração e quem tem o coração quente jamais sentirá frio.

sábado, 28 de dezembro de 2019

NÃO DIGAS NADA



© Ró Mar

O CAMINHO A MIM?


Imagem de Carmen Cardin, - Brasil

Ando só por aí, ando sozinha!


Ando só, sozinha por aí,
sem uma mão entrelaçada à minha,
sem um olhar ao encontro do meu,
Ando só por aí, ando sozinha.

A paisagem é bruma que não se dissolve;
A saudade é minha guia e o meu tormento.
Até quando contemplarei só o firmamento,
nessa idílica visão, morada que me envolve?

Procuro por ti e não te encontro, ainda.
Persisto, até que o dia chegue, enfim,
que dê conta do tanto que esperei por ti:
Quimera, mãe da solidão que não finda!

Do jardim, avisto a mata sem fim:
Tanto mar, beleza de meu Deus!
Tão distante e tão perto os olhos teus,
Onde estarás, oh meu amor, perdido assim?

De selfie em selfie, ladeira acima
Ao pôr do sol caminho, tal andorinha.
Sonhar é a minha maior cisma:
Ando só por aí, ando sozinha!

Em meio às flores, busco a beleza
Que geralmente passa despercebida
Ao saborear a perfeição da Natureza
Encontro, na Criação, todo o sentido!

Sei que não sou o único coração
à espera de um Amor verdadeiro,
que deseja entregar-se por inteiro,
que sonha com o torpor da paixão.
...
Também sei que não serei a última
a errar e a acertar algumas vezes...
Mas confesso que jamais desistirei:
Creio no amor e sempre acreditarei!
...
Onde estava escrito que seria fácil assim?
Quem sabe num giro mais rápido da Terra
a magia do amor, que toda beleza encerra
Em um piscar de olhos revele o caminho a mim?

PEDRA FILOSOFAL


Imagem: Le Petit Prince

Pedra Filosofal


Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

António Gedeão [Rómulo Vasco da Gama de Carvalho],
"Movimento Perpétuo", 1956

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

ANO VELHO / ANO NOVO



© Lúcia Ribeiro

CRIAR LAÇOS




CRIAR LAÇOS


É tempo de plantar flores no coração
e de semear ternura com emoção.
É tempo de amar com verdade,
sem qualquer dúvida nem embaraço.
Quero que me devolvas o meu abraço
que foi embrulhado com um laço
e foi-te oferecido como uma prenda…
Gostava que me devolvesses
o brilho desse teu olhar
para eu contigo poder estar,
caminhar e ficar juntos a namorar…

É tempo de sorrisos repartir,
emoções fortes sentir,
dar beijos e simplesmente sorrir…
É tempo de renascer e florir,
de pintar cada dia de tons coloridos
e de fazer prevalecer a esperança…
Vem, é hora de devolver carinhos,
seguir de mãos dadas pelos caminhos,
fazer planos e voltar novamente a sonhar,
repartir carícias e amigos cativar…
É tempo de dizer olhos nos olhos amo-te
e agradecer pelas coisas simples
que o Universo tem para nos dar…

O MEU OLHAR É NÍTIDO COMO UM GIRASSOL




II – O meu olhar é nítido como um girassol


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem…
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo…

Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender…
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar…

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar…

 © Alberto Caeiro [Heterónimo de Fernando Pessoa]

O Guardador de Rebanhos” | “Poemas de Alberto Caeiro

SEJAMOS NATAL




"SEJAMOS NATAL"


«Para além de todas as demagogias,
Para além do politicamente correcto,
Para além de todas as hipocrisias,

Celebremos, finalmente, o Espírito do Natal
Em todos os momentos
Desta nossa existência, tão efémera!

- Natal é: Fraternidade, Solidariedade, Paz,
Amor, Alegria na Terra
E nos Corações dos Homens;

- Natal é: a celebração do autenticamente Humano
Em toda a sua essência autêntica
De Bondade e de Verdade;

- Natal é: o enaltecimento de um Mundo
Onde não haja mais lugar para a Crueldade,
Para a Violência ou para a Agressividade;

- Natal é: a reunião dos Corações sensíveis
Que lutam, desesperadamente, pela União
Dos Povos e das Nações;

- Natal é: a rejeição da Discriminação,
Dos horrores da Guerra,
Da mutilação dos Corpos e das Almas;

- Natal é: a consciência da Miséria Humana,
O compromisso da sua superação,
O enaltecimento da Justiça e da União fraternas;

- Natal é: o triunfo do Bem e do Belo,
A glória de todos os Renascimentos,
A comemoração da Dignidade Humana;

- Natal é: a bênção do sempre Novo,
O louvor de todo o acto de Criação,
De Renovação e de Regeneração.

Sejamos Natal,
Hoje, sempre,
Para sempre!»

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

SOBRAS NATALÍCIAS




SOBRAS NATALÍCIAS  


Quando se pensa no Natal
Logo se imagina a fartura
Numa abundância colossal
Que mete respeito e figura.

Quanto mais pessoas melhor
Cada um mostra o que vale
Importa qu´ se exija valor
Quando se pensa no Natal.

Haja prendas e mais alimento
Com um Pai Natal d´ aventura
Para lá do contentamento
Logo se imagina a fartura.

Com embrulhos e mais embrulhos,
E com ataduras bem ou mal,
Há mais ilusão do qu´ orgulhos
Numa abundância colossal.

- Quero uma coisa que m´ agrade –
Ouve-se a voz duma criatura –
É uma prenda de qualidade
Que mete respeito e figura.

- Neste Natal só me sai duques
E o meu Pai Natal é uma seca,
Já estou farto dos seus truques
E eu vou dormir uma soneca.

- Quando acordo só vejo sobras
Em caixas, caixinhas e sacolas,
Nada de jeito para as dobras
E o “Pai Natal” é um gabarolas!

- Oh, tanta gente a passar fome!
Se as sobras pudessem chegar
A todos, sem olhar ao nome,
Este mundo poderia mudar…

Lembrei-me agora, de repente,
Do poema NATAL DE QUEM
Que amigo poeta-competente
Compôs certo dia muito bem.

Trata duma família moderna,
Sem nenhuma crença nem luz,
Que o Pai Natal trazia à perna
Em vez do Menino Jesus:

Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA


*

NATAL DE QUEM?  


Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas.
-- Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!
-- Está bem, eu sei!
-- E as garrafas de vinho?
-- Já vão a caminho!
-- Oh mãe, estou p’ ra ver
Que prendas, vou ter.
-- Que prendas terei?
-- Não sei, não sei...

Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:
-- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
-- Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!

Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papéis
Sem regras nem leis.

E Cristo Menino
A fazer beicinho:
-- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?

O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar

E o Menino, quase a chorar:

-- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!

Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
Foi este o Natal de Jesus?!

© João Coelho dos Santos
In “Lágrima do Mar”, 1996

FOI NATAL




FOI NATAL


O Natal já passou
Foi bonito e em família
O amor triunfou
Houve entre todos
Boa disposição e alegria

Foi uma casa cheia
Com muita emoção
Neste dia com significado
Beleza e emoção.

Que todos tenham desfrutado
De um Santo e Feliz Natal
Que tenham tido saúde e alegria
Neste dia tão especial.

O dia a seguir ao Natal
É para mim de muita reflexão
Penso em tudo e em todos
Que os tenho no coração.

Fico com nostalgia e cansada
Com a cabeça muito dorida
No pensamento alguma tristeza
No peito sinto uma ferida.

Vivo o Natal com muita fé
Vivo o Natal com grande saudade
Vivo o Natal com magia e amor
Mas sinto pena de tanta maldade.

QUANDO UM HOMEM QUISER




Quando um Homem Quiser


Tu que dormes à noite na calçada do relento
numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
és meu irmão, amigo, és meu irmão

E tu que dormes só o pesadelo do ciúme
numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
e sofres o Natal da solidão sem um queixume
és meu irmão, amigo, és meu irmão

Natal é em Dezembro
mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
é quando um homem quiser
Natal é quando nasce
uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto
que há no ventre da mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
tu que inventas bonecas e comboios de luar
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar
és meu irmão, amigo, és meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
és meu irmão, amigo, és meu irmão

© Ary dos Santos, in 'As Palavras das Cantigas'

A OFERTA DO DESTINO




A OFERTA DO DESTINO


Um dia, o destino, trôpego velho de cabelos cor da neve, deu-me uns sapatos e disse-me:

- Aqui tens estes sapatos de ferro, calça-os e caminha... Caminha sempre, sem descanso nem fadiga, vai sempre avante e não te detenhas, não pares nunca!... A estrada da vida tem trechos de céu e paisagens infernais; não te assuste a escuridão, nem te deslumbres com a claridade; nem um minuto sequer te detenhas à beira da estrada; deixa florir os malmequeres, deixa cantar os rouxinóis. Quer seja lisa, quer seja alcantilada a imensa estrada, caminha, caminha sempre! Não pares nunca! Um dia, os sapatos hão-de romper-se; deter-te-ás então. É que terás encontrado, enfim, os olhos perturbadores e profundos, a boca embriagante e fatal que há-de prender-te para todo o sempre!

Isto disse-me um dia o destino, trôpego velho de cabelos cor da neve.

Calcei os sapatos e caminhei, O luar era profundo; às vezes, cantavam nas matas os rouxinóis... Outras vezes, ao sol ardente do meio-dia desabrochavam as rosas, vermelhas como beijos de sangue; as borboletas traziam nas asas, finas como farrapos de seda, os perfumes delirantes de milhares de corolas! Outras vezes ainda, nem uma estrela no céu, nem um perfume na terra, e eu ouvia a meus pés a voz de algum imenso abismo. Passei pelo reino do sonho, pelo país da esperança e do amor que, ao longe, banhado pelo sol, dá a impressão duma imensa esmeralda, e vi também as terras tristes da saudade, onde o luar chora noite e dia! Não me detive nem um só instante! O coração ficou-me a pedaços dispersos pelos caminhos que percorri, mas eu caminhei sempre, sem fraquejar um só momento!... Há muito tempo que ando, tenho quase cem anos já, os meus cabelos tomam-se da cor do linho, e o meu frágil corpo inclina-se suavemente para a terra, como uma fraca haste sacudida pela nortada. Começo a sentir-me cansada, os meus passos vão sendo vagarosos na estrada imensa da vida!

E os sapatos inda se não romperam!

Onde estareis vós, ó olhos perturbadores e profundos, ó boca embriagante e fatal que há-de prender-me para todo o sempre?!...

 © Florbela Espanca

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

BEM VINDO JESUS!



Bem vindo Jesus!


Naquele tempo, S. José e Maria tiveram de fugir
para bem longe, pois as crianças queriam matar.
A prioridade era caminhar e daquela terra sair
e encontrar um sítio isolado para Jesus salvar.

Vinham acompanhados por anjos para os proteger
e Deus sempre a ajudar para se concretizar a missão;
seu filho redentor tinha mesmo que nascer e aparecer
como seu filho, crescer e se tornar num homem cristão.

É tempo de agradecer a bênção que foi seu nascimento,
bem aventurado seja Cristo, nosso amado Redentor
que foi um menino tal como outros e naquele momento
foi criança, um adulto que sofreu para ser nosso salvador.

Nasceu uma nova luz no mundo, uma nova esperança.
que atualmente se torna necessária e tão urgente...
Jesus está contigo... conta sempre com a sua presença;
é ele que transmite luz, paz e amor entre toda a gente!

UM SANTO E FELIZ NATAL



© Fátima Santos Silva

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

O QUE PEDI AO PAI NATAL


Pintura de John William Waterhouse


“O QUE PEDI AO PAI NATAL”


Pedi ao céu, as estrelas;
Às rosas a sua frescura;
Aos lírios, sua brancura,
E odor às violetas belas!

Ao mar, sua cor azulada,
À lua, a sua luz prateada
Às aves, o espaço no ar
E suas asas para lá voar!

Mas o carinho e ternura,
E esse calor de ventura
Do nosso fogoso amor,

Não foi preciso pedir:
Já mo deste bela flor,
O teu coração a luzir!

© Alfredo Costa Pereira

PEDIDOS AO PAI NATAL



Pedidos ao Pai Natal


Pai Natal, velhinho mágico e bondoso
quero que tragas alegria e amor
para todas as pessoas, sê generoso
traz solidariedade e muito calor.

Todos precisam de esperança e coragem,
muita fé e determinação para caminhar
com energias suficientes para a viagem
que temos de percorrer e alcançar.

Quero-te pedir com todo o meu fervor,
saúde e bênçãos para o ano que vem.
Que haja justiça, tolerância e amor
no mundo e em cada coração também.

Que o espírito de Natal seja constante
todos os dias a luz de Cristo ilumine cada Lar.
Que se preze a vida que é muito importante
e as coisas boas que se deve sempre valorizar.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

TER UM AMIGO É MARAVILHOSO



©  Sophia de Mello Breyner Andresen

AOS SEQUIOSOS DO MUNDO




AOS SEQUIOSOS DO MUNDO
“A fonte da água bela”


Almas sedentas da água viva do mundo
Que doravante já não corre nos fontanários
São as mesmas que singram por caminhos vários,
Ansiando ir ao encontro dum sonhar profundo.

Água viva do mundo, fresca e cristalina
Daquela fonte de emoções a palpitar;
Água jorrante e até – somente a gotejar
Num coração sedento, em hora vespertina…

Não há água que mate esta sede singular!
Na terra que é de todos, sem ser de ninguém,
Brota em sombria noite n´aldeia de Belém
Um corpo de Menino feito Luz a brilhar…

Anjos, pastores e reis, beberam dessa água
E a noite fez-se dia, numa aura manifesta
De ternurenta paz, de harmonia e de festa
Com fortes emoções, secando toda a mágoa…

Sequiosos do mundo, procurai a estrela
Que vos conduza àquela Fonte d´ água bela!

© Frassino Machado
In OS FILHOS DA ESPERANÇA

www.frassinomachado.net

domingo, 22 de dezembro de 2019

HÁ MESTRIA EM TODA A ÉPOCA DE NATAL!


Imagem de Ró Mar

HÁ MESTRIA  EM TODA A ÉPOCA DE NATAL!


Em casa portuguesa há o Menino no varandim!
Há toalha bordada e velas demais! Há alecrim!
Há pinheiro verde, bolas de toda a maneira, 
lá bem ao cimo a maior das estrelinhas
e em baixo de tudo o presépio das artes e ofícios! 
Há magia no berço feito de palhinhas 
sobre musgo verde seco! Há prendinhas!
Há contos envoltos em mantas rés à lareira!
Há inverno enraizado nas nesgas dos edifícios!

Em casa portuguesa há certa tradição!
Há bacalhau com todos e real vinho! Há mote!
Há mesa pronta prá ceia, que adentra a noite!
Há sonhos, arroz doce, rabanadas, bolos e tortas!
Há missa do galo, peru à mesa e adoração!
Há o hábito de trajar de branco e vermelho 
e de gorro até às orelhas! Há lendas encanastradas
na serapilheira da sacola do mais velho!
Há sinos, às doze badaladas abrem-se as portas!

Em casa portuguesa há lareira acesa!
Há pão de todos os cereais, broa de milho 
e também migalhas! Há azeite com certeza!
Há queijo e presunto serrano! Há real vinho!
Há alegria em toda a idade! Há azevinho!
Há gente e toda a gente! Há olhares de brilho!
Há gargalhas, abraços e também lágrimas de saudade!
Há muita música e também amor de verdade, 
para dançar noite adentro! Há felicidade!

Em casa portuguesa há esmero na culinária!
Há especiarias e mais prá receita necessária!
Há loiça da vista alegre e também da grossa!
Há colheres de pau, rolos e muita massa
a levedar para com a gente de valor partilhar!
Há também galos e bordalos p'ra enfeitar!
Há roupa velha, patos e mais p'ra cozinhar!
Há alhos e bugalhos! Há fé com certeza!
Há couve flor, galega e portuguesa!

Em casa portuguesa há crianças a brincar
e outras d' olhos esbugalhados! Há que reinventar!
Há o Espírito que aprendem na escola
e nos livros que por lá tem! Há passeios à borla!
Há bolo rei que custa os olhos da cara! Há nozes! 
Há vinho do Porto! Há fado e outras vozes!
Há pinhão milionário, amêndoa descascada,
figos e outros frutos secos! Há desgarrada
bem afinada! Há ciranda e risada!

Há mestria em toda a época de Natal!

© Ró Mar

https://ro-mar-poesia.blogspot.com

sábado, 21 de dezembro de 2019

PRESÉPIO VIVO




PRESÉPIO VIVO


Em tempo antigo
O presépio era vivo
José e Maria se reflectia
Nas pessoas da avó e do avô 
Em volta seus netos e filhos
A família uma só.
Havia um rebanho 
Um pastor e um estábulo
Na loja o burrinho
Na pocilga o boi 
Era substituído pelo porquinho.
Amassavam-se as filhoses 
Para alegria dos mais pequeninos
Cantava-se à volta da fogueira
Ao Deus menino tão pequenino.
Tenho estas memórias guardadas
Lembrança e quanta saudade
Cada pessoa é lembrada
No presépio da humanidade.
Saudades de tanto empenho…
Do avô e da avó, dos pais que já não tenho,
Tanto mistério neste presépio humano, 
A saudade engole a gente.
A luz do presépio era fraca 
Mas estava sempre presente
A candeia era alimentada com azeite.
A casa era humilde, não muito importante,
Mas suficiente 
Para o nosso aconchego.
A lembrança da nossa fé
E da nossa inocência
Vinha com a presença
Do divino infante.
A simplicidade daquele presépio humano,
Tinha enfeite irrelevante
Transmitia paz e alegria
Na sua essência, no meio do alarido
Da presença das tias e tio.
Na ceia, não faltavam as filhoses
O pão e vinho e o sorriso abundante
Esperando as doze badaladas
Para celebrar o nascimento
Do divino infante
Reflectia sobre estes engodos,
Tanta alegria, nos unia,
Jesus nascia para todos.

NATAL É ASSIM!



NATAL


Pintura de Van Gogh


“NATAL”


Vejo pessoas lisonjear o mundo, e o vão prazer!
E por este quadro quando passo os olhos meus
Vejo o mundo em sombra, que se está a perder,
Negando a muitos o direito de viver, e dizer adeus!

Se essa gente observasse a angústia a instalar-se,
E ouvisse os gritos humanos, impossíveis de conter,
Como se um vinho feito de propósito para endoidecer,
Nos nervos malévolos das pessoas se entornasse!

E tudo isto adquire mais força e significado no Natal!
Na multidão, vemos folhas mortas ao abandono fatal,
Manifestando a sua dor sozinha e desgraçadamente!

Vejo tanta nódoa de lágrima hipocritamente vertida,
E choros verdadeiramente sentidos silenciosamente,
Que são dissimulado em riso, pela injustiça da vida!

© Alfredo Costa Pereira

NATAL QUE ME DEIXA CONTENTE...




Natal que me deixa contente…


Faço das tristezas a minha força
E das minhas forças alegrias
Não há diabo que me torça
Na verdade, que assim roça
A amizade em tão belos dias

Dou amor a quem mo pede
E quem mo pede o receberá
Será que alguém se atreve
A não dar o amor que se deve
E quem precisa o que fará?

Vem aí o Nascimento do Menino
Esse Menino que é nosso Deus
Tantos anos e tão pequenino
Mas tão belo paladino
Que subiu aos lindos céus

Eu, tu e outros mais
Por aqui o faremos renascer
São momentos que são demais
Já que há poucos a eles iguais
Que nos deixem tanto prazer

Vamos, pois por cá comemorar
O Natal que Deus nos deu
Não há nada como O saber amar
No momento que está a passar
Uma beleza que aconteceu